Liderança, Espiritualidade e Autoconhecimento – 2° Parte:

2° Parte:
Espiritualidade

No meio organizacional, diversas teorias e linhas de atuação são utilizadas para agregar e orientar as práticas e condutas adotadas, a fim de promover melhores resultados.

Durante muitos anos o Quociente de Inteligência (QI) foi utilizado para mensuraçãoda capacidade cognitiva dos indivíduos. A inteligência cognitiva permanece igual ao longo da vida, sendo um potencial fixo, ou seja, a capacidade de aprender continua a mesma aos 5 e aos 60 anos. Nesse caso, falamos em uma situação em que não haja evento traumático que possa gerar uma lesão cerebral ao longo desse período, por exemplo.

O QI foi utilizado como base para construir análises e tomar decisões em diferentes contextos. Com o passar do tempo, na prática, percebeu-se que alguma outra variável interferia nos resultados. A partir desse ponto, o Quociente Emocional (QE) começou a ser estudado em inúmeras pesquisas e foi compreendido como o possível fator crítico, que gerava a diferença percebida nos resultados.

Essa nova maneira de analisar serviu para entender um pouco mais sobre a relação entre as respostas obtidas em termos de desempenho em pessoas com QI diferentes, pois não apresentavam necessariamente um desempenho superior diretamente relacionado ao QI superior.

“… as pessoas com os níveis de inteligência (QI) mais elevados apresentavam um desempenho superior em comparação com pessoas de QI mediano apenas 20% das vezes, enquadro as pessoas com QI mediano apresentam um desempenho superior em comparação com as pessoas com alto QI 70% das vezes.” (BRADBERRY & GREAVES, 2019, p.7)

Nesse ponto é necessária uma ressalva feita pelo próprio Goleman (2011), no que tange a interpretação equivocada que o QE seria responsável integralmente por essa diferença. Evidentemente que ela tem grande influência, mas há outras variáveis que também influenciam e interferem nos dados utilizados.

Existe vários modelos de QE e dezenas de variações que trazem perspectivas diferentes. De forma geral, pode se dizer que a inteligência emocional mobiliza um elemento distinto do intelecto que é a emoção, e por isso é uma habilidade flexível, passível de aprendizagem. É constituída por competências pessoais e sociais. A competência pessoal pode ser entendida pela capacidade de saber sobre as próprias emoções (autoconsciência sobre as emoções) e, com isso gerenciar as tendências de comportamentos para o objetivo desejado (autogestão). A competência social por outro lado, pode ser entendida como a capacidade de reconhecer e compreender as emoções dos outros, sendo uma habilidade que possibilita o reconhecimento do que o outro sente e isso propicia a apreensão de informações importantes do contexto.

Então o QE é um conceito que trata das questões relativas às capacidades de identificação e avaliação das próprias emoções, assim como das emoções de outras pessoas. Na prática, ter autoconhecimento emocional e ser capaz de identificar suas próprias emoções pode permitir certo controle emocional, melhorando a condição de adaptabilidade ao ambiente, assim como uma boa percepção da emoção do outro pode resultar em uma maior influência em seu meio, por exemplo.

Teoricamente, o acréscimo do Quociente Emocional (QE) à equação, deveria dar conta da contraparte do QI, fechando assim a relação entre racional e emocional.

Mas não foi essa a realidade. Se fez necessário mais uma expansão conceitual para tratar do que continuava a se apresentar, a complexidade humana.

A introdução do conceito de QE no meio empresarial ampliou a percepção e possibilitou fazer análises um pouco mais satisfatórias do que as embasadas apenas no QI, e que até os dias de hoje, ainda estão sendo absorvidas e incorporadas pelas empresas. Agregar um conceito ao meio, de forma prática, leva tempo para ser absorvido e integrado, pois passa pela transição, um período que demanda esforço e adequação.

Apesar dessa mudança, o conceito de QE ainda era insuficientes para analisar o fenômeno do humano nos cargos de liderança dentro das empresas, pois as questões mais profundas, como os valores mais elevados e o propósito de vida, não estavam abarcados.

O avanço seguinte passaria por agregar conhecimentos atuais de neurociência, para dar um tratamento a esse campo de forma mais concreta. Ao mesmo tempo, era necessário alcançar os aspectos ditos “transcendentes” e que se relacionam a valores como engajamento, empatia e sustentabilidade, palavras muito atuais. Esse novo conceito é conhecido como a “terceira inteligência” ou Quociente Espiritual (QS). Um conceito novo, que acrescenta um “terceiro tipo de inteligência” às duas anteriores, que amplia e aprofunda a percepção das situações, acessando a criatividade e valores existenciais, alterando a compreensão dos fatos, pois se relaciona ao senso de finalidade e sentido de vida.

É uma teoria ainda em construção, e por isso existem formas diferentes de compreensão em termos do seu funcionamento neurológico.

É também importante esclarecer que se fala de espiritualidade, e não de religião.

A espiritualidade se relaciona a uma percepção de conexão interna e sentimento de pertencimento profundo, independente da prática religiosa seguida. Isso implica que pessoas mesmo sem religião alguma, podem vivenciar a espiritualidade, e por outro lado, pessoas ditas religiosas, podem nunca ter experimentado uma experiencia espiritual.

Essa experiencia se relaciona a um estado de consciência, que tende a evocar sentimentos e sensações de serenidade, reverencia e ligação com a vida.

Um líder com QS alto agirá de acordo com valores mais elevados, terá o desejo de servir como um traço marcante e demonstrará preocupação com as pessoas, com a comunidade e com o meio ambiente. Ele se perguntará sobre o porquê nas situações, levantando questões de maneira a trazer a reflexão como uma prática natural, criando uma conexão entre as coisas, fatos e situação para a tomada de decisão em seus posicionamentos.

Melissa Coutinho

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  1. GOLEMAN D. Inteligência emocional. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011.
  2. BRADBERRY T.; GREVES J. Inteligência emocional 2.0: Você sabe usar a sua? São Paulo: Alta Books, 2016.
  3.  ALPER, M. Aparte divina do cérebro. Rio de Janeiro: Best Seller, 2008.
  4. MAXWELL, J. C.; DORNAN, J. Liderar é influenciar. Rio de Janeiro: Thomas
  5. PENNA, E. M. D. Um estudo sobre o método de investigação da psique na obra de C. G. Jung. 2003. Dissertação (Mestrado em Psicologia Clínica) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2003.
  6. ZOHAR D., MARSHALL I. QS: Inteligência espiritual. Rio de Janeiro: Viva Livros, 2018.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Preencha os dados abaixo antes de enviar se comentário