O movimento como de expressão da alma e suas consequências terapêuticas – I

A dança sempre foi uma das principais expressões do ser humano. Desde os primórdios, nas antigas civilizações, era expressão de cultura. Através da dança, dos movimentos corporais, se criava uma ligação entre o homem e a natureza, entre o humano e o divino, o concreto e o transcendente. Pois o movimento tem o potencial de tocar múltiplas dimensões de existência: a física, a cognitiva, a emocional e a espiritual, ao mesmo tempo.

Na dimensão física, movimentar o corpo é trabalhar com a coordenação motora, flexibilidade, força muscular, tônus, relação entre tensão e relaxamento e senso de equilíbrio, dentre outras coisas. Na cognitiva, estimula a concentração, memória, percepção espacial, e principalmente a propriocepção, consciência do próprio corpo. A dimensão psíquica e afetiva envolve tudo isso, possibilitando o acesso a memorias esquecidas, a questões pessoais, muitas vezes presentes no corpo de forma inconsciente, trazendo intensidade e emoção ao movimento, além de acessar a capacidade criativa e de transformação inerentes à alma.

A dicotomia mente-corpo impregnada na cultura ocidental, estabelece a que o corpo e a psique, são “entes” completamente distintos e separados.  

O corpo então, deixou de ser um “campo de saber”, um “território de afetos”, que fala sobre um saber de si, um saber sobre a vida, para ser uma máquina, fria e dura, se que expressa por movimentos vazios. Vivemos um tempo que a palavra “vazio” tem sido falada muitas vezes, em diversos meios, por várias pessoas: relações vazias, sensação de vazio, vazio interior etc. Mas os movimentos também estão vazios, expondo os corpos “vazios”, vazios de subjetividade, de singularidade, de simbolização.

Sobrevivemos, como se não houvesse um “saber” no corpo, como se o movimento não fosse uma expressão complexa, uma forma de manifestar metaforicamente, o que se pensa, o que sente, o que vive, o que se é. Refletir sobre o corpo e o movimento que nasce dele, de um novo ponto de vista, é percebê-lo como a revelação de um saber profundo, intrínseco, primitivo e essencial do humano. É poder experimentar a existência de estar vivo no corpo. Um corpo vivo, um organismo, uma engrenagem que conecta, além de suas diversas partes com movimentos articulados em uma unidade, mas também ponte entre as diferentes instancias que compõe o Ser.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Preencha os dados abaixo antes de enviar se comentário