O outro lado da Liderança

O que significa ser líder?

Talvez essa seja uma pergunta muito fácil de responder. Podemos pensar que liderança é a arte de coordenar, educar e integrar pessoas, exercendo a habilidade de influenciar com entusiasmo para a geração de resultados.  A posição do líder, valida a autoridade e permite a autonomia e o arbítrio na tomada de decisões. No dia a dia, lidam com situações desafiadoras e complexas, pois trabalham com sistemas maiores e muitas pessoas envolvidas.  O líder então, é a pessoa de referência, é quem orienta, é o próprio exemplo para todos. Aquele que pratica a democracia sem prescindir de assumir a responsabilidade das decisões, com foco no melhor resultado, sendo reconhecido financeira e profissionalmente, por isso. Todas essas definições estão certas.

Talvez essa seja a imagem de liderança que atrai as pessoas para estarem nesse lugar. Mas será que é apenas isso? E será que as pessoas estão preparadas para lidar com tudo isso, ainda que pareça ter apenas o bônus dessa posição?                                           

Ou existe um outro lado, com suas limitações, pressões, angústias e sofrimentos? E quem ocupa esse lugar está preparado para lidar com esse outro lado também?

Um líder humano

Esquecemos que um líder é, antes de tudo, um ser humano. Isso significa que ele terá que lidar com tudo que o constitui, ou seja, o seu mecanismo psicológico, sua subjetividade, seus pensamentos e emoções, suas forças e fragilidades. Podemos nos enganar achando que é possível separar os traços pessoais da vivência profissional. Mas com o tempo, a experiência e a maturidade, percebemos que essa separação é menos clara e real, do que gostaríamos. A história de vida estará sempre presente, através das memórias, crenças, impressões e emoções. O que foi vivido não desaparece. Além disso, quando se trata do tema liderança, não podemos esquecer que a construção da personalidade acontece a partir do contato com as pessoas que cuidam daquele que acaba de nascer. É dessa interação que as formas de se relacionar vão ser estabelecidas, e é nesse contexto que acontece o primeiro aprendizado de um modelo ou estilo de liderança.

Porque os líderes estão adoecendo?

Tendemos a não olhar para o que nos incomoda. Melhor não mexer com o que, certamente, dará trabalho para resolver. Deixemos quieto, e sigamos em frente. Sigamos até que, sejamos obrigados a parar e a rever. Os desafios de relacionamento, as dúvidas, a extrema pressão, o sofrimento, a percepção e atitude do outro em relação ao líder, assim como as inúmeras decepções e frustações, convidam a uma parada compulsória para analisar a situação. Se faz necessário no momento em isso acontece, separar, dividir em pedaços menores a experiência, e compreendê-la na real dimensão, perceber do que realmente se trata.

Esse momento chega quando os sintomas aparecem, sintomas como uma crise de ansiedade ou de pânico, ou uma depressão. Naquele dia em o líder não consegue sair da sala após uma reunião, pois está totalmente em pânico com todos aqueles sintomas físicos como sudorese, taquicardia ou tremores e um medo irracional de tudo, que o fazem perder o controle, até do próprio corpo. Como ele poderá chamar alguém para o ajudar nesse momento, se é dele o lugar de apoiar o seu liderado? Se é dele o lugar de quem sabe resolver os problemas?  Também podem aparecer sintomas como um grande desanimo ao simples fato de lembrar que amanhã, terá de ir trabalhar. Outra situação que pode estar sinalizando que algo não vai tão bem assim, é uma dificuldade específica com uma pessoa, ou com uma situação. Aquele liderado que, não importa o que você faça, parece ter algo contra você. Ou uma situação que gere uma grande ansiedade, relacionada por exemplo, a uma apresentação com exposição de dados. Um contexto teoricamente simples e comum, mas que pode produz internamente uma avalanche de pensamentos e emoções que desorientam e fragilizam, pois podem representar dentre outras coisas, o medo do líder de não atender às expectativas do outro.

A relação com o outro lado

Começar a pensar sobre isso pode parecer assustador. Não ter o controle sobre si próprio, e para piorar, sequer compreender como isso acontece, é uma situação no mínimo desconfortável. A Psicanálise, que é uma práxis construída da prática clínica motivada pelos sintomas corporais incompreensíveis e sem causa justificável, pode ajudar muito em outros contextos, inclusive nas organizações, pois é um sistema estruturado e consistente, que ajuda na compreensão da natureza psíquica e seu funcionamento. Precisamos nos lembrar que as organizações são feitas de pessoas, e que à frete delas, se encontram pessoas. Não máquinas. E se pudemos compreender mais sobre elas/nós, o seu modo de funcionamento, sua forma de se relacionar, poderemos ser mais efetivos na resolução das situações. Não querer saber disso é um atraso, é uma opção pouco lucrativa. Pois não garante a estabilidade, ou a resolução do conflito, ou a supressão de algum sintoma pessoal. Ao contrário, prorroga uma situação difícil, e não te ajuda a ter uma percepção mais concreta e realista do que realmente pode estar em jogo. Mas quando se faz a opção de querer saber sobre isso, sobre o que estava encoberto, ou que não havia sido percebido, a resolução da situação pode ser construída, pois só se pode fazer algo com uma informação, se você a tem. Lógica simples, e sempre atual.

O meio organizacional está longe de ser fácil. Liderar pessoas muito menos. O que faz a diferença nesse contexto é o autoconhecimento. Saber sobre si, sobre o realmente se passa com você, entender o como você funciona internamente, traz uma nova configuração que amplia e agrega informações fundamentais para se traçar os próximos passos e determinar o que realmente é necessário, e principalmente, o como você vai conseguir alcançar o que deseja.

A propósito, você sabe o que deseja?  

Melissa Coutinho

Artigo publicado no site da GPS Empresarial. Site:https://www.cgps.com.br/

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