Corona Vírus

Sugestão sobre como lidar com situações potencialmente traumáticas

O momento que estamos vivendo pode ser experimentado de forma traumática por algumas pessoas. Uma ruptura na dinâmica corriqueira da vida, uma real ameaça à saúde, e incertezas pairando sobre tudo isso.

Primeiro, é necessário que nos orientemos. As mudanças chegaram rápido demais nas nossas vidas, e de um dia para o outro, fomos convidados a ficar em quarentena. Não sabíamos muito bem o que estava acontecendo, víamos o que ocorria em outros países, e nos apressamos em tomar medidas para evitar os horrores que acompanhávamos pelos meios de comunicação. E isso é um outro fator relevante: ter o contato com as imagens e dados trágicos, como mortes, pode ser intenso demais e gerar muita angústia, com a qual teremos que lidar. Além disso as informações sobre como o próprio vírus se propaga, o que causa, e o que devemos fazer, estão sendo construídas ao mesmo tempo que vivemos a situação, o que pode causar uma sensação de instabilidade e de insegurança. Mas apesar disso tudo, precisamos, e podemos, achar um meio de lidar com essa situação de forma resiliente.

Estamos em um contexto complexo, que abarca as áreas da saúde física e mental, da sociedade, da política, da religião etc., e uma verdadeira avalanche de informações nos invade… É de suma importância que nos orientemos!

Tal qual um animal selvagem que, numa floresta, toma decisões após experimentar um período de orientação, levanta a cabeça procurando informações vindas de todos os cantos do ambiente e busca cheiros, movimentos, cores e qualquer referência que lhe dê uma percepção mais apurada sobre o que está acontecendo ao seu redor, dispomos de sistema similar e devemos utilizá-lo para nos orientarmos. Devemos procurar ter uma orientação dinâmica, curiosa, não através do medo que pode nos paralisar, mas através da curiosidade de resolução.

Separar as informações que assimilamos é essencial. Falo aqui sobre separar os assuntos, aquilo que é sobre o vírus, do que é exclusivamente político, do que é sobre religião, e assim sucessivamente. Feito isso, podemos separar o tipo de informação sobre o determinado assunto que nos interessa, por exemplo, sobre os dados na sua cidade ou no Brasil, ou sobre as medicações, ou sobre pesquisas etc. Também devemos tomar o cuidado de ter um limite de contato essas informações para não exceder a quantidade daquilo que nós podemos “digerir”.

Que tal você escolher horário e fontes confiáveis para acessar as informações e ocupar o restante do tempo com outras atividades? Você terá que perceber, na prática, qual o seu limite para se manter bem, absorvendo apenas o que terá a capacidade de integrar, para não haver saturação. É o que podemos chamar de “titulação”.

Conseguir “titular” pode evitar estresse desnecessário, aborrecimentos, brigas e inimizades com os outros. Lembre-se de que o mundo está na mesma situação, o que significa que nossas defesas estão atentas e procurando uma válvula de escape para descarregar o “excesso” ao qual estamos expostos.

Para saber como você está lidando com isso, vou sugerir um pequeno e simples exercício que poderá fazer no seu quarto. Ideal que seja um momento em que esteja sozinho e que não seja interrompido. Imagine que você está fazendo um rastreamento dentro de você, como se fosse um scan. Sente-se em uma posição confortável e se pergunte: O que sente nesse momento? Como está seu corpo agora? Talvez você tenha uma sensação desagradável no corpo ou alguma emoção com a qual não esteja lidando bem. Neste momento, é importante que você perceba que: se há alguma informação sobre coisas desagradáveis e/ou que o desorientam, também há informação oposta que pode ajudá-lo a equilibrar essas sensações. Por exemplo, se você perceber que suas pernas estão desconfortáveis, perceba onde no seu corpo está confortável, talvez você note que suas costas estão apoiadas na cadeira e isso lhe dê uma sensação de segurança e bem-estar. E dessa forma você mantém as duas sensações ao mesmo tempo. Isso irá lhe permitir “esticar o tempo” em que está em contato com o que é desagradável, por exemplo, mas com menos impacto negativo em você, como se você fosse dessensibilizando aquela sensação que não era boa. Mas não só isso. Manter essa conexão entre as coisas que sente, levando em conta seus recursos, sejam quais forem, uma sensação corporal boa, ou uma imagem, ou uma lembrança de uma música, ou uma oração etc., pode gerar uma transformação interna. Assim também com uma emoção, você sempre buscará um recurso, uma lembrança de um momento no qual você estava seguro, em que estava bem, ou uma imagem que lhe traga sentimentos que para você são significativos, qualquer coisa que lhe faça sentir bem. A imagem de um pêndulo nos ajuda a perceber que quando estamos em um extremo, o outro extremo também existirá, e ao invés de ficarmos presos em um dos lados, podemos “dançar” entre eles. Além desse tipo de exercício, você pode buscar recursos diversos a qualquer momento que sentir necessidade de modificar sua sensação interna, como fazer coisas que gosta, ler, dançar ou assistir algo interessante e que lhe dê uma sensação de conforto.

Uma outra coisa importante e da qual não podemos prescindir é do contato com as pessoas. Sim, apesar de estarmos limitados espacialmente, não estamos limitados virtualmente. Utilize todos os recursos que estiverem à sua disposição para estabelecer vínculos significativos. Utilize o e-mail e a mensagem de texto, mas não abra mão de ligar e de eventualmente fazer uma chamada de vídeo. Ouvir a voz e ver o rosto do outro são experiencias necessárias que nos ajudam a regular nossa experiencia, pois nos possibilitam sentirmos a conexão com o outro, a nos sentirmos ligados ao outro, e isso pode ser vivido como uma sensação de mais organização e integridade internas.

Nós precisamos de tempo para integrar a situação e desenvolver estratégias ativas para lidar da melhor forma possível, por isso, tenha paciência com você. Cuide de você. Mas lembre-se de também de cuidar do outro. Precisamos do outro, estamos juntos no que está acontecendo, globalmente inclusive.

Precisamos de coerência, de transparência e de coesão. Isso nos fortalece e nos dá a sensação de segurança, mesmo em meio a uma situação incerta. Somos seres sociáveis, vivemos em comunidade, precisamos nos sentir conectados ao outro, e em relações saudáveis. Respeitar, cuidar e aguardar ativamente pode nos ajudar a atravessar esse período e a fazer dele um momento de transformação valiosa para nossas vidas mesmo após tudo isso passar. E vai passar!

Melissa Coutinho.

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